Faltam menos de 30 dias para o início das Olimpíadas de Paris. Enquanto os competidores estão prestes a chegar aos jogos, outro grupo de atletas também se prepara para viajar à capital francesa. Isso porque um mês depois dos Jogos Olímpicos começam as Paralimpíadas, no dia 28 de agosto, e que devem reunir 4,4 mil pessoas com deficiência em 22 modalidades. No Brasil, segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro, já foram convocados 124 paratletas, mas novos anúncios ainda serão feitos nos dias 11 e 18 de julho. Um dos atletas que já está garantido para representar o Brasil é paulista, tem apenas 16 anos e vai para sua primeira Paralimpíada.
Victor dos Santos Almeida, conhecido como Vitinho, é atleta da natação e vai disputar medalhas pelo Brasil na classe S9, destinada a pessoas com alguma deficiência física. Vitinho nasceu com má formação congênita no fêmur direito. Isso fez com que sua perna crescesse de forma desproporcional em relação ao membro esquerdo, e leu a necessidade do uso de prótese. Mas antes de completar um ano, ele já praticava natação. “Desde os três meses faço parte desse mundo. Sempre foi um sonho do meu pai. Quando eu nasci, foi um choque a questão da má formação. Mas meus pais consultaram alguns médicos, que indicaram a natação”, explica.
Aos cinco anos ele participou da primeira competição, em uma academia que frequentava. Com oito anos, passou a fazer testes para ingressar em clubes da capital paulista. No ano seguinte foi chamado para integrar a seleção de natação. “No começo eu participava das equipes de base, mas agora tenho a oportunidade de competir contra os melhores do mundo”, diz. Antes de conquistar a vaga, Vitinho já fez bonito na França, onde foi disputada uma das etapas do World Swimming Series, em junho deste ano. Na ocasião, o atleta conquistou um ouro e duas pratas.
Poucas semanas antes dos jogos, Vitinho está focado nos treinos, que acontecem de segunda a sábado e são alternados entre atividades na piscina, academia, funcional e regenerativo. Em alguns dias, os treinamentos são em dobro, ou seja, pela manhã e tarde. “Agora é foco total na preparação. Só descanso no domingo”, comenta.
Das quadras de Goiânia para Paris
Outra chance de medalhas nas Paralimpíadas de 2024 vem da Seleção Brasileira Masculina de Vôlei Sentado. Raysson Ferreira, 24 anos, também é estreante nos jogos. Ele mora na capital de Goiás e treina desde os 18 anos. Um ano antes, aos 17, ele passou por uma amputação da perna esquerda após o diagnóstico de osteossarcoma, um câncer agressivo que atinge os ossos. Depois da cirurgia, ainda na escola, o jovem demonstrou interesse em praticar esportes nas aulas de Educação Física. Em meio a sua insistência, uma professora indicou que ele fosse treinar em algum paradesporto. Com isso, em 2018, iniciou seus treinos no vôlei sentado e hoje integra a seleção que estará em Paris.
Raysson acompanhou a convocação dos atletas brasileiros pelo YouTube. “A expectativa naquele momento era muito grande. Era algo que eu já estava esperando, mas quando vem o anúncio oficial a gente fica mais tranquilo e podemos ver que deu tudo certo o esforço que fizemos. Agora é colocar o pé no chão, continuar os treinamentos e buscar o ouro lá na França”, comenta.
O caminho até Paris foi de treinos intensos, seja na quadra, na academia ou fortalecimento. Raysson inclusive se dedicava a atividades fora do que estava programado para a preparação. “Eu chegava em torno de uma hora e meia antes no local de treinamento para fazer alguns exercícios extras e depois fazer meu treino tradicional, que dura entre três e quatro horas. É importante para o corpo estar preparado a essa rotina e chegar à competição sem ter lesões ou incômodos”, afirma. Agora, poucas semanas antes dos jogos, ele ainda participou do Torneio Holandês de Vôlei Sentado, na cidade de Assen, na Holanda, entre os dias 3 e 8 de julho. Esta foi mais uma etapa de sua preparação.
Tecnologia na medida certa em busca da medalha
Vitinho e Raysson, além de todo o esforço físico, também contam com a tecnologia certa para suas rotinas. Antes das Paralimpíadas, para garantir sua mobilidade e ajudar nos treinos fora das piscinas, Vitinho vai receber uma nova prótese para a perna direita. Trata-se de um equipamento à prova d’água para que o atleta tenha mais segurança no uso, especialmente em seus treinos, conforme explica Thomas Pfleghar, diretor de academy da Ottobock na América Latina, empresa que produz a tecnologia.
“Ainda que ele não utilize a prótese nas provas, por ser um atleta da natação o mais recomendável é a tecnologia à prova d’água para não ter preocupação nos bastidores”, afirma. Antes de ter a nova tecnologia pronta para uso, ele recebeu componentes provisórios para não ficar desprovido de próteses. “É um equipamento muito importante para minha mobilidade e autonomia de ir e vir. Facilita toda a minha rotina e os treinos de força fora da piscina”, diz o atleta.
Raysson utiliza uma prótese transfemural, o que significa que a amputação que ele sofreu foi acima do joelho. Portanto, ele usa tecnologias articuladas tanto para substituir o joelho quanto para o pé esquerdo. “Além de usar nos treinos, é necessária para minha autonomia, inclusive durante os jogos. Por mais que eu não utilize na competição em si, preciso dela para a locomoção e treinamento diários”, comenta.
Cada atleta tem demandas diferentes, que determinam mais ou menos funções em suas próteses, conforme explica Thomas. “Por isso, é importante que um joelho protético forneça segurança quando o usuário se apoie sobre a prótese (chamada de fase de apoio) ou em movimento controlado na chamada fase de balanço (quando ocorre flexão e extensão, por exemplo)”. Esses equipamentos, segundo o diretor da empresa, são feitos com base em análises laboratoriais a partir de pessoas não amputadas, para que as próteses criadas cheguem mais perto do que é um membro humano.
A empresa alemã que cede as próteses também é uma das patrocinadoras dos Jogos de Paris. São 4,5 milhões de euros investidos neste que é um dos maiores eventos esportivos do mundo. "Temos como objetivo devolver mobilidade e qualidade de vida para as pessoas com alguma deficiência, e sendo patrocinadores de eventos do setor conseguimos alcançar os atletas que necessitam e utilizam próteses, órteses e cadeiras de rodas", finaliza o diretor.
Sobre a Ottobock
Fundada em 1919, em Berlim, na Alemanha, a Ottobock é referência mundial na reabilitação de pessoas amputadas ou com mobilidade reduzida por sua dedicação em desenvolver tecnologia e inovação a fim de retomar a qualidade de vida dos usuários. Dentro de um vasto portfólio de produtos, a instituição investe em próteses (equipamentos utilizados por pessoas que passaram por uma amputação); órteses (quando pacientes possuem mobilidade reduzida devido a traumas e doenças ou quando estão em processo de reabilitação); e mobility (cadeiras de rodas para locomoção, com tecnologia adequada a cada necessidade). A Ottobock chegou ao Brasil em 1975 e atua no mercado da América Latina também em outros países como México, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai, Argentina, Chile e Cuba, além de territórios da América Central. Atualmente, no Brasil, são oito clínicas, presentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e Salvador.