Treinos relâmpagos para a corrida de São Silvestre não são recomendados para pessoas sedentárias Diogo Anhasco
A chegada do fim de ano traz algumas tradições de volta, tais como as reuniões entre amigos que não se viram durante o ano, a lentilha no jantar de ano novo e, para alguns, a vontade repentina de correr a São Silvestre mesmo sem preparo físico para a maratona. Muitas dessas pessoas não praticam esportes e tomam a decisão de se aventurar com poucas semanas de antecedência, com treinos amadores na esteira ou na rua com a esperança de ganhar fôlego para completar a prova de 15km.
“Não é recomendado que uma pessoa sedentária faça uma prova como essa, que acontece sob o sol do verão e com trechos difíceis até para atletas profissionais”, afirma Avner Teixeira, médico do esporte responsável pelo Ambulatório de Corrida do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE). “O risco de saúde é algo individual que depende de vários fatores. Neste caso, a falta de preparo físico com certeza expõe a pessoa a um maior risco de lesão muscular e tendínea devido à sobrecarga não habitual gerada pelo exercício, além do risco de morte súbita causado por problemas cardíacos preexistentes que muitas vezes são desconhecidos”, explica.
Embora pareçam exagerados, os casos de morte súbita não são raros e, segundo dados da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), a emergência médica causa mais de 300 mil falecimentos por ano no país, por motivos diversos. Por isso, é fundamental realizar uma avaliação médica adequada antes de se lançar no mundo da corrida para avaliar os potenciais riscos e entender quais são as recomendações.
De acordo com o Dr. Avner, durante a consulta o paciente deve responder um questionário de saúde, chamado anamnese, que é uma conversa com o médico para que ele conheça seus hábitos e histórico de saúde, incluindo doenças preexistentes, além de passar por um exame físico. É fundamental relatar tudo, incluindo dores e desconfortos, para que as orientações sejam direcionadas da melhor forma possível. De forma geral, a pessoa sairá do consultório com a solicitação de pelo menos um eletrocardiograma (ECG) para identificar alguma alteração no funcionamento cardíaco e alguns exames laboratoriais de acordo com a necessidade individual, sempre de olho na faixa etária também.
Após essa etapa, o aspirante a corredor deve procurar um educador físico para que o oriente sobre os treinos, que sempre devem ser realizado respeitando os limites físicos do corpo. No caso de uma pessoa sedentária sem grandes complicações de saúde, o tempo médio de preparação para uma prova como a São Silvestre deve ser de pelo menos seis meses. Há pessoas que evoluem de forma mais rápida enquanto outras levam mais tempo, o que não deve se perder de vista é que a evolução física seja feita de gradual, com foco na saúde e não apenas no desempenho. Orientações sobre a alimentação, hidratação e sono também são feitas.
Vale lembrar que, no caso da corrida, o fortalecimento muscular é parte importante do processo. “A musculação não isenta ninguém do risco de lesões musculares e nos tendões durante os treinos, mas reduz seu risco ao preparar os músculos do corpo para receber todo o impacto que ele sofre, além de torná-lo mais potente para a corrida e para lidar com o estresse pós-prova”, explica o Dr. Avner.
O médico ainda tem uma última recomendação: “Os sedentários que resolveram se animar para a corrida do próximo dia 31 devem avaliar os riscos e recalcular a rota para passar uma virada de ano tranquila, sem queimar a largada com sustos ou machucados. Minha dica é ir com calma e se preparar de forma adequada ao longo de 2024 para a prova do ano que vem”.