Depois de uma campanha histórica no ParaPan de Santiago, no Chile, entre os dias 17 e 26 de novembro, os atletas brasileiros voltaram com o pensamento nos próximos treinos. O foco agora é nas competições pré-paralímpicas que devem ser disputadas no início de 2024 e que vão selecionar os brasileiros para os jogos de Paris, disputados entre 22 de agosto e 8 de setembro. No ParaPan, os atletas mantiveram o Brasil pela quinta edição seguida dos jogos na primeira colocação do quadro-geral de medalha, com 156 ouros, 98 pratas e 89 bronzes, o que totaliza 343 pódios. Isso ajudou a superar a edição de quatro anos antes, em Lima, quando o país conseguiu 124 medalhas ouros, 99 pratas e 85 bronzes (308 no total).
Mariana Gesteira, da natação, que treina em Vitória (ES) é uma das atletas que volta com muitas conquistas, mas com os olhos na cidade luz. Em sua terceira competição continental, ela garantiu quatro medalhas de ouro e uma de prata, além de ter batido sete vezes os recordes do Parapan nas provas. “A gente vem conseguindo evoluir na natação, mesmo com tanto tempo de competições. É muito gratificante, e isso me coloca cada vez mais na briga por medalhas em Paris”, afirma.
Os esforços agora continuam para manter o alto nível de competição. “Estamos bem e com bastante tranquilidade em relação aos índices que precisamos para Paris. Com certeza muito do caminho já foi trilhado e podemos evoluir mais”, afirma. Para chegar ao pódio, Mariana treina de segunda-feira a sábado nas piscinas, além de fazer academia, pilates, fortalecimento e treino de core (trabalho dos músculos do abdome). “Minhas manhãs e tardes são ocupadas com os exercícios”, diz.
Do ciclismo veio mais um ouro
Na prova de 500 metros de pista do velódromo de Santiago, a ciclista Sabrina Custódia garantiu a sonhada medalha de ouro. Além disso, na mesma prova também conseguiu bater o recorde do ParaPan nesta prova. “Estou muito feliz com esse resultado. Eu estava preparada desde o início, mas estava na expectativa para a prova pois iriam competir todas as classes na pista. “Temos alguns detalhes para ajustar, mas é um bom resultado para o meu currículo”, comenta.
As pedaladas até Paris não param. Em janeiro ela vai disputar um torneio nacional e em março o mundial de ciclismo de pista, que será realizado no Rio de Janeiro, para tentar uma vaga nas paralimpíadas. “Só vamos ter certeza depois do mundial. Estamos no caminho certo, melhorando o tempo cada vez mais, mas a expectativa está grande para Paris”, afirma. Até lá, a ciclista vai se dedicar aos seus treinos, com quatro horas por dia, de segunda-feira a sábado. “Tem dias que faço treinos mais longos, específicos para estradas, que duram de três a quatro horas, e tem dias que foco em curta distância e com mais velocidade para as pistas, com cerca de duas horas”, diz.
Conquista inédita no ParaPan
Outra conquista marcante foi do rugby em cadeira de rodas. A seleção brasileira pela primeira vez subiu ao pódio, com uma medalha de bronze. Desde que saiu de São Paulo rumo a Santiago, esse era descrito como um dos principais objetivos da equipe, segundo o paratleta Lucas Junqueira, que compõe a seleção. Ele que esteve presente nas duas últimas edições do ParaPan, faz uma avaliação positiva da competição.
“É uma meta que estava há muito tempo sendo almejada. Isso nos dá visibilidade e também pode trazer mais incentivo e reconhecimento”, afirma. Lucas comenta ainda que o esporte está em evolução desde que o técnico Benoit Labrecque assumiu o comando em fevereiro de 2023. Neste ano, os atletas conquistaram o título do Campeonato Sulamericano e de um torneio quadrangular na Alemanha como preparatório da competição no Chile.
A seleção também voltou para o Brasil com uma vaga para disputar o qualificatório para Paris. A equipe nunca conquistou uma vaga em paralimpíadas, apesar de ter participado dos jogos do Rio 2016, como seleção do país-sede. “Em Tóquio não chegamos perto de conquistar essa vaga, mas agora temos chances reais de estar na briga”, diz o atleta. Para isso, Lucas dedica cinco horas por dia ao esporte. “É um treino completo, e não acontece só na quadra: preciso fazer condicionamento físico, musculação, acompanhamento do nutricionista e na questão psicológica”, explica.
Tecnologia que melhora a competitividade
Os atletas contaram também com uma aliada de primeira linha na competição: a tecnologia para pessoas com deficiência. Graças aos equipamentos, eles têm mais autonomia para ir aos treinos e competições. Mariana, que é portadora da Síndrome de Arnold-Chiari, uma má formação no cérebro que pode causar dificuldade de equilíbrio e coordenação motora, utiliza uma cadeira de rodas e uma scooter para se locomover. Lucas, que é tetraplégico devido a um acidente, utiliza também uma cadeira de rodas para sua locomoção, para os treinos e competições. Já Sabrina que teve parte da perna direita amputada além das duas mãos em decorrência de uma descarga elétrica, utiliza uma prótese para caminhar e outra para os treinos com a bicicleta.
As tecnologias são desenvolvidas pela Ottobock, patrocinadora oficial dos Jogos ParaPanamericanos desde 1999. Além disso, a empresa patrocinou seis atletas na competição, totalizando 2 milhões de euros por ano somente nos competidores (cerca de 11 milhões de reais), o que inclui equipamentos e o suporte técnico e profissional aos atletas. A empresa também vai estar nas Paralimpíadas de Paris, com investimentos ainda mais robusto nos atletas: cerca de 4,5 milhões de euros.
Segundo o CEO da Ottobock na América Latina, Marcelo Cuscuna, o investimento nesses atletas é uma maneira de a empresa ajudá-los a se tornarem competidores de alto nível. “Como empresa que produz e estuda tecnologias temos como objetivo devolver mobilidade e qualidade de vida para todos as pessoas com alguma deficiência. Sendo patrocinadores de eventos do setor conseguimos alcançar os atletas que necessitam e utilizam próteses, órteses e cadeiras de rodas”, explica.
Competições como essas são consideradas fundamentais para ampliar a visibilidade para pessoas com deficiência, na opinião do CEO. “Acreditamos que esta é a melhor forma de mobilizar a sociedade sobre como a tecnologia e o esporte podem mudar a vida de uma pessoa com deficiência”, afirma. Por isso, a empresa seleciona atletas de alto nível para apoiá-los nas competições dentro e fora do Brasil, bem como em seus treinos. “Esses competidores passam por uma avaliação de equipe multidisciplinar, que verifica mobilidade, deficiência e rotina deles no dia a dia para definir seus equipamentos. Queremos que a tecnologia seja a melhor possível para que o atleta mostre à sociedade a importância da luta por autonomia e representatividade”, finaliza.
Sobre a Ottobock
Fundada em 1919, em Berlim, na Alemanha, a Ottobock é referência mundial na reabilitação de pessoas amputadas ou com mobilidade reduzida por sua dedicação em desenvolver tecnologia e inovação a fim de retomar a qualidade de vida dos usuários. Dentro de um vasto portfólio de produtos, a instituição investe em próteses (equipamentos utilizados por pessoas que passaram por uma amputação); órteses (quando pacientes possuem mobilidade reduzida devido a traumas e doenças ou quando estão em processo de reabilitação); e mobility (cadeiras de rodas para locomoção, com tecnologia adequada a cada necessidade). A Ottobock chegou ao Brasil em 1975 e atua no mercado da América Latina também em outros países como México, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai, Argentina, Chile e Cuba, além de territórios da América Central. Atualmente, no Brasil, são oito clínicas, presentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e Salvador.