Padre Jean Ferreira, vigário da Paróquia Cristo Luz do Mundo de Ilha Solteira
Em um mundo marcado por profundas divisões e crescente individualismo, as propostas da Campanha da Fraternidade de 2024 sobre amizade social e o do Sínodo da Igreja 2021-2024, que nos direciona a caminhar juntos, surgem como elementos fundamentais para a construção de uma sociedade mais caridosa e fraterna. Esses conceitos, têm implicações práticas significativas e profundas, oferecendo um caminho esperançoso para superar os desafios sociais contemporâneos.
Enquanto amizade social refere-se à capacidade de estabelecer laços de solidariedade e compreensão mútua além das fronteiras pessoais, culturais ou nacionais. Promovendo uma visão de mundo que reconhece a dignidade intrínseca de cada pessoa, independente de suas circunstâncias de vida, incentivando uma cultura de paz e respeito mútuo. Sendo uma força poderosa para a superação de preconceitos, a promoção da inclusão e o fortalecimento do tecido social.
Já caminhar juntos, é um convite à ação coletiva, significando reconhecer que, apesar das nossas diferenças, compartilhamos um destino comum e que nossos esforços individuais são amplificados quando unidos em prol de objetivos comuns. Princípio que estimula a colaboração, o diálogo e o compromisso mútuo, essenciais para enfrentar os desafios complexos da atualidade, como a desigualdade social, a crise ambiental e a necessidade de construir comunidades mais sustentáveis e resilientes.
A interação entre as duas propostas oferece uma nova perspectiva sobre como podemos abordar a caridade. Longe de ser vista apenas como assistencialismo, a caridade é entendida aqui como um compromisso ativo com o bem-estar do outro, uma expressão de amor que busca não apenas aliviar o sofrimento imediato, mas também promover a justiça social e a igualdade.
Através da lente da amizade social e do caminhar juntos, a caridade se transforma em uma prática cotidiana que valoriza cada contribuição, grande ou pequena, na construção de um mundo mais justo e fraterno.
Assim a importância desses conceitos para a construção de um mundo mais caridoso e fraterno não pode ser subestimada, nos lembram que a transformação social começa com a transformação das relações humanas, pois ao cultivar a amizade social, aprendemos a ver o "outro" não como um estranho, mas como um companheiro de jornada. E ao escolher caminhar juntos, reconhecemos que nossa força reside na união, na capacidade de somar esforços e recursos em direção a um objetivo comum.
O romance “Como Vocês Vivem?” escrito pelo autor japonês Genzaburo Yoshino em 1937, apesar de sua antiguidade, traz mensagens profundamente relevantes para os dilemas contemporâneos sobre a amizade social, a caridade e a construção de um mundo mais fraterno.
Através da jornada de autodescoberta do jovem protagonista, Copper, Yoshino explora conceitos éticos e filosóficos que ressoam com a urgência de reavaliar nossas relações sociais e a importância de caminhar juntos em busca de um futuro coletivamente mais promissor.
Para que essa visão se torne realidade, é necessário um compromisso ativo de cada um de nós. Isso envolve, entre outras coisas, educar-nos para a solidariedade, fomentar o diálogo intercultural e inter-religioso, promover a participação cívica e incentivar o voluntariado.
A obra de Yoshino, portanto, serve como um lembrete poderoso da importância da amizade social e de caminhar juntos para a criação de um mundo mais caridoso e fraterno. Ela nos convida a refletir sobre nossas próprias vidas e as escolhas que fazemos, incentivando-nos a buscar conexões mais profundas e significativas com aqueles ao nosso redor. "Como Vocês Vivem?" é um apelo à consciência coletiva, à responsabilidade social e à ação colaborativa, elementos essenciais para enfrentar os desafios do nosso tempo.
Ilha Solteira, 29 de fevereiro de 2024